17.4.10

Cultural London


Se há coisa de que goste é de andar horas dentro de uma galeria de arte a explorar quadros. Percorro rapidamente com o olhar os vários quadros expostos de cada vez que entro numa sala, detenho-me num, exploro-o, escrevinho no meu bloco de notas (caso leve um) e depois passo para outros quadros e outras salas. Às vezes sento-me e até me ponho a comparar pinturas. A semana passada em Londres foi repleta de visitas culturais.

A primeira foi à National Gallery, onde numa visita anterior a Londres apenas tinha espreitado a sala do impressionismo e pouco mais. E foi aqui que descobri um quadro verdadeiramente assombroso: An Experiment on a Bird in the Air Pump. O contraste de sombras e luzes é sublime! Fiz questão de no final de uma aula, na semana passada, o mostrar à minha turma de artes. Alguns dos miúdos ficaram verdadeiramente fascinados a descrever as suas impressões sobre o quadro.



Num outro dia, logo pela manhã, dirigimo-nos à Modern Tate que fica localizada na margem sul do Tamisa. Atravessando a Millenium Bridge, uma das mais recentes, se não mesmo a mais recente sobre o rio, podemos de um lado visitar a Tate e do outro a St Paul's Cathedral.

A entrada, tal como na National Gallery, é grátis, com excepção das exposições temporárias. A Ala Vienense é uma coisa mais do que obscura: é "sem palavras". Não lhe percebi bem o sentido e juro que não pretendo armar-me em púdica ou pura. Mas há muita coisa de interesse para ver: desde pop arte a cubismo, passando por surrealismo. A sala com as obras de Andy Warhol é muito cool. E há uns quadros de Francis Bacon aos quais recomendo prestar-se cuidadosa atenção (outros, tão ou mais interessantes, podem ser apreciados na Tate Britain). Na Modern gostei em particular de uma série de fotografias, a série Subway, de Bruce Davidson, que documenta a vida no metro de Nova Iorque nos anos 80. Davidson pretendia demonstrar a beleza que coexistia com o ambiente perigoso do metroplitano nessa época e consegue-o magistralmente. Um quadro que me causou forte impressão foi Gothic Landascape de Lee Krasner, que foi casada com Jackson Pollock. O quadro foi feito nos anos que se seguiram à morte de Pollock e mesmo sem se saber esse pormenor sente-se que o quadro está impregnado de dor. De Pollock já ouvira falar. Krasner era-me perfeitamente desconhecida.

E como ainda não estávamos fartas de cultura, eis que no dia seguinte, depois de uma visita aos mercados em Covent Garden (onde em tempos existiu de facto um CONVENT), apanhámos o autocarro que nos deixou frente à Tate Britain.

E que belas horas lá passadas! Apesar das dores nas pernas e nos pés arrastei-me de sala em sala e pude apreciar verdadeiras preciosidades: os maravilhosos Ophelia de Millais e The Lady of Shalott de Waterhouse, que eu fazia mesmo questão de admirar "ao vivo". Death on a pale horse de Turner, que não se encontra na ala dedicada ao pintor mas numa outra com quadros verdadeiramente tenebrosos mas belíssimos cujas temáticas são a morte e o inferno. É nesta sala que se encontra também a obra The Ghost of a Flea de Blake. Houve, contudo, um quadro, que eu não conhecia, e também da autoria de Millais, que me deixou boquiaberta pela força e determinação que podemos "ler" na figura feminina; trata-se de The Order of Release. É a mulher que, carregando o filho nos braços, suporta todo o peso e desalento do marido. Não podem imaginar o tempo que fiquei a olhar para o quadro. Tal como já havia referido também encontramos obras de Francis Bacon na Tate Britain. Uma marcou-me em especial: Three Studies for Figures at the Base of a Crucifixion, um tríptico que retrata a violência e o sofrimento humanos. O quadro foi feito durante a Segunda Guerra Mundial.



No dia em que fomos ver a peça Private Lives (que recomendo em absoluto a quem vá a Londres nos tempos mais próximos) decidimos dar um salto ao British Museum por este se encontrar aberto até mais tarde nesse mesmo dia.

Adorámos o pouco que vimos do museu. Esperávamos algo enfadonho com demasiados calhaus, mas a verdade é que foi com grande entusiasmo que vimos as peças roubadas pelos ingleses aos gregos e egípcios. Se por um lado acho moralmente errado tesouros gregos e egípicios encontrarem-se no British Museum, por outro não pude deixar de pensar "ainda bem que aqui estão e que eu tive a oportunidade de me deliciar com estas maravilhas". A moral e a ética é uma coisa lixada! É espantoso que estátuas sem cabeça e sem braços, i.e. aos bocados, nos possam deixar tão maravilhados. Os restos do Parténon ali expostos! Ó maravilha das maravilhas! Se me tivessem dito, previamente, que eu ficaria tão entusiasmada com tanto calhau, eu não acreditaria!

Mesmo não indo a Londres é possível visitar estas e outras preciosidades nos links que se seguem. Não é a mesma coisa, claro, mas vale a pena clicar!

2 comments:

Precious said...

Adoro os museus de Londres. Os meus preferidos são a secção egípcia do British, o museu de história natural e a national gallery.
Que vontade de regressAar.

Maria Felgueiras said...

Somos duas! Mas o de História Natural ainda não visitei.