... o fundo decisivo da nossa individualidade não é tecido pelas nossas opiniões e experiências da vida; não consiste no nosso temperamento, mas em qualquer coisa de mais subtil, de mais etéreo e anterior a tudo isto. Somos, antes de mais, um sistema nato de preferências e rejeições. Cada um de nós tem, mais ou menos coincidente com o dos outros, o seu sistema carregado e pronto a disparar pró ou contra, como uma bateria de simpatias e repulsas. O coração, essa máquina de preferências e de recusas, é o suporte da nossa personalidade. Antes de conhecermos o que nos rodeia somos impulsionados por ele numa determinada direcção, para determinados valores. A isso devemos a nossa perspicácia para as coisas em que vemos realizados os valores que preferimos, e a nossa cegueira para aquelas em que residem outros valores iguais ou superiores, mas estranhos à nossa sensibilidade.
in Estudos Sobre o Amor, Ortega y Gasset
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