Nunca tive muito o hábito de escrever recados nas cadernetas. Esta falta de hábito deve-se essencialmente ao facto de ter leccionado durante mais tempo turmas do secundário. No ano passado com o 9º ano lá escrevi uns quantos recados e este ano dou por mim a voltar a essa grande chatice (porque é, acima de tudo, uma chatice) de pedir a caderneta a alguns alunos para lá escrevinhar uns recados para os respectivos encarregados de educação. Sem grande espanto a primeira coisa que respondem quando a caderneta lhes é pedida é: "Não tenho a caderneta comigo." ou "Ficou em casa". Não faz mal, digo eu, o caderno também serve. E é ver os seus olhos furibundos.
Sexta-feira, na aula de Área de Projecto, distribuí umas micas com alguns documentos por cada grupo de trabalho e qual não é o meu espanto quando ao passar por um dos grupos reparo que a mica ( a MINHA mica comprada com o MEU dinheiro) está com aspecto de ter saído da boca de um cão. Perguntei às criaturas: "Isto não estava assim quando vos entreguei ainda há pouco, pois não?" Acenaram as cabeças em concordância comigo. "Então, passem para cá as cadernetas."
Uma das criaturas vasculha a mochila e eu à espera de ouvir a desculpa do costume de "Ficou em casa." mas eis que milagrosamente aquela não havia sido esquecida em casa! Hooray! O puto retira a caderneta da mochila e atira-a. ATIRA-A na minha direcção. Eu fico a olhar para ele. Pego na caderneta e atiro-lhe a caderneta de volta com tal violência que ela foi cair no chão. E pergunto: "Oiça lá, acha que isto são modos? Gostou que lhe tivesse atirado assim a caderneta? Vamos lá a ver se há maneiras." E houve, quando me voltou a entregar a caderneta, esta já não foi atirada e, posteriormente, as fichas e mica com respectiva documentação foram-me entregues e não atiradas.
Confesso que, aliado a uma série de outros factores, a profissão que exerço já me cativou mais do que o que me cativa actualmente. Encontro-me profundamente desconsolada. E muito em especial desconsolada com estes comportamentos de constante desafio à autoridade do professor. De pura má-educação. De gente que parece que viveu uma vida inteira enfiada numa barraca ou numa caverna desconhecendo por completo que em sociedade existe um código de normas e de regras que, quando cumpridas e seguidas, tornam a vida de todos bastante mais agradável.
E o mais alarmante é que estes miúdos não são, nem de longe, dos piores que existem nas escolas e com os quais uma pessoa trava uma luta constante. Ora são os papéis atirados ao chão, ora são as agressões aos colegas, o tirar o material uns aos outros, o uso dos telemóveis, o uso dos IPods e leitores de mp3, a ausência de material escolar, as respostas tortas, o virar-se para trás e para o lado, o estar constantemente a falar, o interromper o professor a meio de uma explicação ou da correcção de um exercício para perguntar se pode deitar o papel no caixote ou se pode ir buscar a caneta à colega x ou ao colega y, as fichas de trabalho amarrotadas, as borrachas atiradas uns aos outros, os insultos uns aos outros, as pastilhas elásticas, os palavrões que lhes saiem naturalmente pela boca fora porque, afinal de contas, aquela é a sua linguagem.
Torna-se um bocado cansativo corrigir estes comportamentos. Uma pessoa lá tenta, entre a assertividade e a flexibilidade, uma estratégia que possa surtir algum efeito positivo e, com alguns dos meus, já percebi que os melhores resultados são obtidos com a bela da falta disciplinar. Ah, e no meio disto tudo há os programas do ministério e as planificações a cumprir.
Sexta-feira, na aula de Área de Projecto, distribuí umas micas com alguns documentos por cada grupo de trabalho e qual não é o meu espanto quando ao passar por um dos grupos reparo que a mica ( a MINHA mica comprada com o MEU dinheiro) está com aspecto de ter saído da boca de um cão. Perguntei às criaturas: "Isto não estava assim quando vos entreguei ainda há pouco, pois não?" Acenaram as cabeças em concordância comigo. "Então, passem para cá as cadernetas."
Uma das criaturas vasculha a mochila e eu à espera de ouvir a desculpa do costume de "Ficou em casa." mas eis que milagrosamente aquela não havia sido esquecida em casa! Hooray! O puto retira a caderneta da mochila e atira-a. ATIRA-A na minha direcção. Eu fico a olhar para ele. Pego na caderneta e atiro-lhe a caderneta de volta com tal violência que ela foi cair no chão. E pergunto: "Oiça lá, acha que isto são modos? Gostou que lhe tivesse atirado assim a caderneta? Vamos lá a ver se há maneiras." E houve, quando me voltou a entregar a caderneta, esta já não foi atirada e, posteriormente, as fichas e mica com respectiva documentação foram-me entregues e não atiradas.
Confesso que, aliado a uma série de outros factores, a profissão que exerço já me cativou mais do que o que me cativa actualmente. Encontro-me profundamente desconsolada. E muito em especial desconsolada com estes comportamentos de constante desafio à autoridade do professor. De pura má-educação. De gente que parece que viveu uma vida inteira enfiada numa barraca ou numa caverna desconhecendo por completo que em sociedade existe um código de normas e de regras que, quando cumpridas e seguidas, tornam a vida de todos bastante mais agradável.
E o mais alarmante é que estes miúdos não são, nem de longe, dos piores que existem nas escolas e com os quais uma pessoa trava uma luta constante. Ora são os papéis atirados ao chão, ora são as agressões aos colegas, o tirar o material uns aos outros, o uso dos telemóveis, o uso dos IPods e leitores de mp3, a ausência de material escolar, as respostas tortas, o virar-se para trás e para o lado, o estar constantemente a falar, o interromper o professor a meio de uma explicação ou da correcção de um exercício para perguntar se pode deitar o papel no caixote ou se pode ir buscar a caneta à colega x ou ao colega y, as fichas de trabalho amarrotadas, as borrachas atiradas uns aos outros, os insultos uns aos outros, as pastilhas elásticas, os palavrões que lhes saiem naturalmente pela boca fora porque, afinal de contas, aquela é a sua linguagem.
Torna-se um bocado cansativo corrigir estes comportamentos. Uma pessoa lá tenta, entre a assertividade e a flexibilidade, uma estratégia que possa surtir algum efeito positivo e, com alguns dos meus, já percebi que os melhores resultados são obtidos com a bela da falta disciplinar. Ah, e no meio disto tudo há os programas do ministério e as planificações a cumprir.
4 comments:
Vou-te linkar. Magnífico texto! ***
O melhor é saber que me compreendes. :D
Aos teus falta-lhes chegar a roupa ao pêlo. Método rápido e que faz milagres. Tudo o resto é conversa. Da treta.
Não trabalho com crianças e adolescentes, mas percebo o que dizes. Ainda ontem tive uma discussão com uma cliente, a quem os paizinhos não terão dado a educação que deviam.
Como hão-de as crianças ser bem educadas e ter um comportamento cívico, se não têm o exemplo em casa?
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