28.9.17

a ti

Os dias têm sido tão longos e cheios que me sinto constantemente com a sensação de estar perdida. Não é uma sensação necessariamente má. Curiosamente. 

Há sempre muita coisa para fazer e assuntos vários a resolver. Quando consigo pôr um "visto" em alguns desses afazeres esboço um largo sorriso mas logo de seguida reparo que surgiram mais umas quantas tarefas a resolver com urgência.


Este início de ano letivo tem sido um desafio gigante. Darei conta do recado? Sinceramente, não sei. Sinto-me motivada e existem tantos estímulos a tantos níveis que me sinto inclinada a dizer que sim, que vou conseguir. É um bom princípio. Qem sabe? Daqui a uns meses saberemos. 

A grande verdade é que ainda há poucas semanas não me sentia minimamente entusiasmada. Aliás, estava efectivamente aborrecida. Em pouco tempo tudo mudou e o que percebi é que recuperei entusiasmo. Melhor, ganhei, descobri entusiasmo. Algo parecido a paixão. 

Que sentimento(s) estranho(s). Terei alguma vez sentido isto antes? Assim com esta intensidade? Não me recordo. 



Apenas me recordo de uma vida antes em que aos poucos fui recuperando algo. Mas o entusiasmo esse não existia verdadeiramente. No fundo achei-me uma fraude tantas, mas tantas vezes sempre com um grande sorriso, sempre bem, sempre "feliz" da vida, mas cá dentro uma escuridão tremenda a puxar-me e a envolver-me Uma inquietação tão grande. Uma insatisfação tão plena que nunca nada poderia ser suficiente. E nunca nada o foi.

Quantas e quantas vezes quis de facto sentir-me feliz por estar viva? E quantas vezes percebi que estava viva mas não feliz por estar. E quantas vezes desejei poder trocar de lugar com o meu irmão? Quantas vezes desejei que a vida nos pudesse levar ao dia 31 de janeiro de 1998 e que tudo pudesse ter sido diferente. Que eu pudesse ter trocado a minha vida pela dele. Quantas noites acordada o desejei?



O meu irmão que já foi matéria como eu é agora apenas um conjunto de memórias, que se vão desvanecendo mas que por vezes se recuperam nas conversas com amigos. E há sempre alguém a contar-me um episódio desconhecido; há sempre alguém a dizer-me algo sobre o meu irmão que eu não sabia. E é assim que ele vive: nas nossas memórias, nas conversas que tenho com amigos que o estimavam. 

E o que eu percebi é que devo a mim mesma uma oportunidade e que a devo também ao meu irmão. Devo honrá-lo, vivendo o melhor possível a minha vida. 




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