3.11.06

Estudos Sobre o Amor - excerto

O amor, embora nada tenha de operação intelectual, parece-se com o raciocínio porque não nasce em seco e, por assim dizer, ex nihilo, mas tem a sua fonte psíquica nas qualidades do objecto amado. A presença destas engendra e nutre o amor; dito de outro modo, ninguém ama sem razão; todo aquele que ama tem, ao mesmo tempo, a convicção de que o seu amor é justificado: mais ainda, amar é «crer» (sentir) que o amado é, com efeito, amável em si mesmo, como pensar é crer que as coisas são, na realidade, tal como pensamos que são. É possível que num e noutro caso nos enganemos, que nem o amável seja como o sentimos, nem real o real tal como o pensamos; mas a verdade é que amamos e pensamos enquanto é essa a nossa convicção. O carácter lógico do pensamento consiste nesta propriedade de se sentir justificado e viver precisamente dessa justificação, alimentando-se dela a todo o instante, corroborando-se na evidência da sua razão. Leibniz exprime isso mesmo dizendo que o pensamento não é cego, mas que pensa uma coisa porque a vê tal como a pensa.

O amor não é, portanto, ilógico nem anti-racional. Será, sem dúvida, a-lógico e irracional, já que logos e ratio se referem exclusivamente à relação entre conceitos. Mas há um uso mais amplo do termo «razão», que inclui tudo o que não é cego, tudo o que tem sentido, nous.

in Estudos Sobre o Amor, Ortega y Gasset

2 comments:

Isabel Freire said...

Velvetsatine,
Vou ao lançamento do livro de Francesco Alberoni. Posso levar comigo outra pessoa. Pensei em ti.
Se quiseres é dia 7 de Novembro, às 17h00, na Embaixada Italiana. Preciso do teu nome, para dar ao gabinete de imprensa. Escreve-me para o mail do Blog da SF.
Bjs

Maria Felgueiras said...

Aceito, Isabel!

(Já enviei mail com nome completo.)

Bjs e muito obrigada pelo convite. :)